terça-feira, 16 de outubro de 2012

Apontamentos do Iowa (2)

As árvores vestidas de outono. Vermelhas, amarelas, verdes. Por todo o lado, majestosas, a impor a sua presença antiga, ordenando os espaços em seu redor, como donas da paisagem humanizada. Seja nos bairros residenciais, no perímetro da universidade, nos parques urbanos ou nas bermas das auto-estradas, as árvores são protagonistas de pleno direito, a lembrar um respeito pela natureza que pode parecer paradoxal, se pensarmos na omnipresença dos automóveis e nas construções desengraçadas.
Em Iowa City, como em muitas cidades americanas, ir a pé a algum lado é algo de bizarro, pois todos circulam em veículos motorizados fora de um breve perímetro de poucas dezenas de metros. Por esta razão quando, no primeiro dia, decidi ir a pé para a universidade, foram pouquíssimas as pessoas que encontrei, dando-me a impressão (falsa) de uma cidade vazia.
Ao sair do hotel, instintivamente (pois não há mapas dignos desse nome para peões) segui o rio e atravessei uma zona residencial que me pareceu ser claramente dominada pela classe média e média-alta. As casas eram, na sua maioria, de linhas tradicionais, como nos habituámos a ver nos filmes e nas séries, com a exceção de uma ou outra mais moderna, com materiais que fugiam à clássica madeira colorida. Porém, o que mais me agradou neste bairro foi a perfeita integração na paisagem - as árvores, como já referi, mas também os relvados um tanto selvagens, naturais, numa continuidade perfeita entre o público e o privado. Sem vedações nem sebes, havia mobiliário de jardim espalhado em frente às casas e quase apetecia sair do passeio e descansar por ali um bocadinho, naqueles espaços de ambígua propriedade.
Este modo de viver, tão contrário ao dos portugueses, agrada-me. Possibilita espaços esteticamente agradáveis e proporciona - pelo menos aparentemente - uma vivência mais descontraída, sem a obsessão dos limites e da privacidade. Habituava-me a viver assim.






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